Como sempre, a abertura da aula foi pautada nos comentários dos blogs elaborados para a disciplina. Em seguida, foi aberta a discussão sobre a atual condição humana, que tem como características principais o hibridismo e a "naturalização da utilização dos métodos artificiais pelo homem". Como exemplo inicial, o professor André Lemos citou o post (deste blog) sobre o mouse ocular , que possibilita a inclusão não apenas digital, mas também social de portadores de diversos tipos de limitação física. Sendo o mouse ocular uma tecnologia que para ter aplicação é preciso a união do corpo humano com esse aparato técnico (em uma forma de hibridização), foram expostas várias questões sobre essa condição do homem. Algo que aparentemente parece inovador e futurista, mas que, ao ser contextualizado e aprofundado, é percebido que existe desde o início da humanidade, como ressalta André Lemos em seu artigo "Cidade-ciborgue. A cidade na Cibercultura" (2001): “O processo de “ciborguização” (Lemos, 1999, Gray, 1995) contemporâneo do corpo, do imaginário e das cidades nada mais é do que um prolongamento dessa condição humana presente desde as primeiras cidades (Mumford, 1998; Blanquart, 1997)”.
Qual o limite da Humanidade?
Um misto de ser orgânico, o humano que interage, depende e se mistura com toda a tecnologia existente para viver. E quando se fala de tecnologia estamos nos referindo a todos os artifícios criados pelo homem para facilitar sua vida desde o início dos tempos. Surge, então, a questão principal: qual o limite da Humanidade? Até que ponto o homem é humano ao se utilizar de próteses e todo esse aparato técnico para vencer seus obstáculos? Em algum momento dessa odisséia ele deixa ou deixará de ser humano? Ele se torna menos humano e mais máquina por essas utilizações? Ao se exemplificar e contextualizar exemplos do cyborg, replicante e etc., veremos que a resposta para essas perguntas é negativa. É o que mostra outro trecho do artigo citado acima: “O artificial é assim profundamente humano. A cidade é produto da humanidade artificializante atingindo seu ápice na cidadeciborgue contemporânea. É nessa perspectiva que deveremos pensar a “cyborguização” da cultura contemporânea já que o presente e o devir da humanidade é um “devir- ciborgue” . A cidade como artefato técnico e desde sempre híbrido não está fora desse processo. O que queremos mostrar aqui é a extensão cada vez maior das tecnologias digitais de comunicação e informação na vida das cidades”.
"Computador não tem memória"
Como podemos observar, o homem ao driblar suas dificuldades e se tornar um híbrido de homem e máquina, objeto ou qualquer outra tecnologia artificial não passa a ser menos humano, ao contrário, talvez isso até o torne mais humano, já que o que o cerca: a tecnologia (e o que se torna híbrido com ele), é que o ajuda a evoluir intelectualmente, por exemplo. São meios que se tornam facilitadores da obtenção de conhecimento, meios que o tornam mais capaz de utilizar e aproveitar todas as suas faculdades. Ou seja, sua hibridização acaba tendo por resultado um maior acesso as experiências humanas. Além de tudo, a diferença clara entre o homem e a tecnologia que se conecta com ele ainda é o fato de que apenas ele é capaz de produzir conhecimento, a máquina, o objeto que se mistura com ele não teria a mesma capacidade sozinha. "Computador não tem memória, portanto, não pensa" (André Lemos).
"Uma Nova Imaginação"
Para concluir a aula foi discutido o texto de Flusser “Uma nova imaginação”, que trata de remontar a história dos signos e fechar a segunda parte ("Códigos") do livro "O Mundo Codificado", mostrando um novo modo de criação e decodificação de imagens, uma natureza admensional. O texto começa falando da capacidade do homem de criar imagens para si e para os outros, sendo a reflexão sobre essa capacidade chamada de "imaginação". A imaginação, segundo Flusser, é o gesto com o qual o homem se posiciona em seu ambiente.
Ele aponta, então, dois gestos (ou "faculdades imaginativas") responsáveis pela criação das imagens. O primeiro gesto é do recuo do mundo objetivo e aproximação da subjetividade, para então as imagens surgirem como quadros orientadores de ações futuras. O segundo gesto relaciona-se fundamentalmente com a memória (suporte), pois se trata da necessidade de tal para armazenamento de dados que serão decifrados no futuro por outros. Mais adiante se discute a "idolatria", momento no qual a inversão na finalidade da imagem, acaba alienando o homem. Conclui-se, então, a necessidade de uma crítica a imagem.
Crítica através de discursos lineares
A referida crítica é feita através de discursos lineares a partir do qual se caminha para uma crítica mais profunda através de códigos numéricos e cálculos. Surge então um novo meio de criação das imagens, algo que atinge o abstracionismo e o “nada” para então as imagens serem representadas e decodificadas nas suas reais circunstâncias e aplicações.